19 de janeiro de 2011

"O Teatro é que me apaixonou. O ambiente; as frisas e camarotes; o dourado discreto do estuque e o rosa velho dos estofos. O ar que se respirava lá dentro era mágico: tinha outra constituição molecular, outro cheiro; entrava nos pulmões e desencadeava ondas de prazer que sobrelevavam a qualquer deleite masturbatório. À lenta diminuição das luzes da sala, anunciando o fim do intervalo e o início do acto seguinte, sobressaíam com subtil refulgência os contornos esculpidos das quatro ordens de camarotes: e os meus colegas de turma sentados nos seus lugares, agora silhuetas à meia-luz vislumbradas na frisa ao lado ou no camarote em frente, perdiam a boçalidade que eu tão bem lhes conhecia do recreio e das casas de banho do liceu, para me parecerem de repente transformados em príncipes e poeta.
Os feios tornavam-se bonitos; os bonitos, lindos de morrer."

Amar não acaba, Frederico Lourenço

1 comentário:

  1. Olá, Raquel
    Permite duas palavras.
    Cheguei até aqui pelo Cercarte que todos os dias visito e deparei-me com o, Para Ti. Deparei-me e fiquei porque gosto de pensar. Se o faço bem, já é outra parte, mas pelo menos faço-o com gosto. Para Ti, é sempre algo que devemos ter, porque nos incentiva a procura, ou a criação do que teremos Para Ti, pois haverá um momento que não chegamos nós. Leva-me até Ti é a outra parte em que o Para Ti, pode ser um meio, a não ser que não desejem receber-nos. O Mostra-me e o Creio serão uma consequência.
    Boa noite
    Galileu, galilei

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