29 de maio de 2011
25 de maio de 2011
Cantigas de Amigo
Sedia-m'eu na ermida de San Simion
e cercaron-mi as ondas que grandes son:
eu atendo'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
Estando na ermida ant'o altar,
cercaron-mi as ondas grandes do mar;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
E cercaron-mi as ondas que grandes son:
nem hei i barqueiro nem remador;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
E cercaron-mi as ondas do alto mar;
non hei i barqueiro nem sei remar;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
Non hei i barqueiro nem remador:
morrerei eu, fremosa, no mar maior:
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
Nem hei i barqueiro nem sei remar,
e morrerei eu, fremosa, no alto mar:
eu atend'0 meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
Meendinho
«Ao lermos as cantigas de amigo, género lírico da tradição medieval galego-portuguesa, fitamos um difuso simbolismo esotérico feito de uma coincidência entre sentimento e ambiente, como por exemplo: “Amor = natureza alegremente faladora (Primavera) / indiferença = natureza tristemente silenciosa (Inverno)”.
Algumas destas cantigas têm a forma de diálogo de uma rapariga enamorada com a mãe, ou a irmã, ou as amigas, sempre acerca do “amigo” ou com este mesmo. Outras são monólogos de uma mulher enamorada. O lirismo vazado nestas composições tanto versa sobre o amor não correspondido, causa de sofrimento, desconforto e lamento, como também pode ser manifestação de um amor espontâneo. Assim, são diversos os sentimentos da donzela: o amor tranquilo e alegre; o fervor da paixão; a ansiedade e angústia porque o amigo não dá notícias; as saudades e a tristeza pela ausência do amado; os ciúmes ou as promessas de vingança pela infidelidade do amigo…
Não é por acaso que Amália Rodrigues utilizou a letra da cantiga “Sedia-m’eu na ermida de Sam Simiom” num fado. Neste cantar de amigo, a donzela, na ermida de S. Simão (ilhéu da ria de Vigo), espera o amigo embarcado. Desesperada, vê a maré encher, crescendo a sua angústia ao pensar que vai morrer sem encontrar o amigo.»
e cercaron-mi as ondas que grandes son:
eu atendo'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
Estando na ermida ant'o altar,
cercaron-mi as ondas grandes do mar;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
E cercaron-mi as ondas que grandes son:
nem hei i barqueiro nem remador;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
E cercaron-mi as ondas do alto mar;
non hei i barqueiro nem sei remar;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
Non hei i barqueiro nem remador:
morrerei eu, fremosa, no mar maior:
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
Nem hei i barqueiro nem sei remar,
e morrerei eu, fremosa, no alto mar:
eu atend'0 meu amigo,
eu atend'o meu amigo.
Meendinho
«Ao lermos as cantigas de amigo, género lírico da tradição medieval galego-portuguesa, fitamos um difuso simbolismo esotérico feito de uma coincidência entre sentimento e ambiente, como por exemplo: “Amor = natureza alegremente faladora (Primavera) / indiferença = natureza tristemente silenciosa (Inverno)”.
Algumas destas cantigas têm a forma de diálogo de uma rapariga enamorada com a mãe, ou a irmã, ou as amigas, sempre acerca do “amigo” ou com este mesmo. Outras são monólogos de uma mulher enamorada. O lirismo vazado nestas composições tanto versa sobre o amor não correspondido, causa de sofrimento, desconforto e lamento, como também pode ser manifestação de um amor espontâneo. Assim, são diversos os sentimentos da donzela: o amor tranquilo e alegre; o fervor da paixão; a ansiedade e angústia porque o amigo não dá notícias; as saudades e a tristeza pela ausência do amado; os ciúmes ou as promessas de vingança pela infidelidade do amigo…
Não é por acaso que Amália Rodrigues utilizou a letra da cantiga “Sedia-m’eu na ermida de Sam Simiom” num fado. Neste cantar de amigo, a donzela, na ermida de S. Simão (ilhéu da ria de Vigo), espera o amigo embarcado. Desesperada, vê a maré encher, crescendo a sua angústia ao pensar que vai morrer sem encontrar o amigo.»
24 de maio de 2011
O Doido e a Morte
«GOVERNADOR CIVIL - Perdão, Sr. Milhões. É preciso que atenda a várias circunstâncias pessoais. Eu não estou preparado para morrer. Não se morre assim sem mais nem menos. Morrer! Morrer!. . . Então o senhor pensa que isto de morrer é uma coisa sem importância nenhuma? Morrer é uma coisa muito séria, é um acto que importa certa preparação, testamento, cólicas, etc. É só chegar aqui, morrer e mais nada! Que tal está o da rabeca! Morrer! Eu não quero morrer nem pensei nunca a sério que tivesse de morrer. Tenho ido a enterros, mas é aos dos outros. . . Então o senhor entra-me pela porta dentro, e sem mais nem ontem, de repente, fala-me assim de morrer como se eu fosse um condenado à morte, nas escadas da força? Adeus, meu amigo! Além disso, é um crime. Previno-o de que é um crime, punido por todos os códigos, atentar contra a vida duma autoridade constituída, demais a mais no exercício das suas funções. Artigo 343. o do Código Penal. Vamos, vamos. . . Isso é um momento de desvario e mais nada. Espero que as minhas palavras o façam reconsiderar. (O outro ergue-se implacável e aproxima a mão da campainha.) Ai que ele está doido varrido! (Exaltando-se) Senhor! Senhor! (Avança para o agarrar, mas o outro põe o dedo em cima do botão e ele afasta-se logo.)
(...)
SR. MILHÕES - Doido! Doido!. . . Já é com esta a terceira vez que mo chama. Saiba então que um homem que não tem aos menos uma parcela de loucura não presta para nada. Aqui estou eu, que, enquanto tive o meu juízo todo, nunca fui feliz. (O Governador Civil julgando-o descuidado, vai-se aproximando da porta.) Passar por doido tem muitas vantagens. Direi mesmo que é a única situação vantajosa que há neste país. O doido diz tudo quanto lhe passa pela cabeça. (E continuando a falar imperturbável faz-lhe sinal que volte para trás e aproxima o dedo da campainha.) Ninguém estranha. O doido pode andar de chinelos de ourelo pelo Chiado. Ninguém repara. Quem tem juízo vive constrangido e está sujeito a mil complicações. Vá, sente-se.»
Editado em 1923. O Doido e a Morte, elogiado por José Régio e Miguel Torga é, porventura, a melhor obra de Raul Brandão e reveste-se de enorme relevo no panorama teatral português. A acção de "O Doido e a Morte" desenvolve-se num contexto marcado pela degradação da vida social e política da República. Em cena, entre outras personagens, dois indivíduos que o autor transformou em arqui-rivais: um governador civil e um milionário alegadamente enlouquecido. Perante a morte iminente estas personagens, "abrem o livro" e fazem uma breve resenha do que é que vale a pena recordar na esterelidade que assola duas vidas inúteis...
(...)
SR. MILHÕES - Doido! Doido!. . . Já é com esta a terceira vez que mo chama. Saiba então que um homem que não tem aos menos uma parcela de loucura não presta para nada. Aqui estou eu, que, enquanto tive o meu juízo todo, nunca fui feliz. (O Governador Civil julgando-o descuidado, vai-se aproximando da porta.) Passar por doido tem muitas vantagens. Direi mesmo que é a única situação vantajosa que há neste país. O doido diz tudo quanto lhe passa pela cabeça. (E continuando a falar imperturbável faz-lhe sinal que volte para trás e aproxima o dedo da campainha.) Ninguém estranha. O doido pode andar de chinelos de ourelo pelo Chiado. Ninguém repara. Quem tem juízo vive constrangido e está sujeito a mil complicações. Vá, sente-se.»
Editado em 1923. O Doido e a Morte, elogiado por José Régio e Miguel Torga é, porventura, a melhor obra de Raul Brandão e reveste-se de enorme relevo no panorama teatral português. A acção de "O Doido e a Morte" desenvolve-se num contexto marcado pela degradação da vida social e política da República. Em cena, entre outras personagens, dois indivíduos que o autor transformou em arqui-rivais: um governador civil e um milionário alegadamente enlouquecido. Perante a morte iminente estas personagens, "abrem o livro" e fazem uma breve resenha do que é que vale a pena recordar na esterelidade que assola duas vidas inúteis...
23 de maio de 2011
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
20 de maio de 2011
Luís de Camões tapado com um pano preto
«Ao fazer o meu passeio diário de bicicleta de Matosinhos à Foz, no Porto, deparei-me, no pequeno largo junto à Praia dos Ingleses, com o busto de Luís de Camões tapado com um pano preto e onde estava escrita a palavra "vergonha" em caracteres grandes. Curioso!
Esta iniciativa já não é original, dado que no final do séc.XIX, por altura do Ultimatum inglês, o povo de Lisboa tapou a estátua de Luís de Camões com panos pretos, tal era a vergonha pela "cobardia" dos nossos políticos perante os tais ditos "aliados" ingleses!»
Pedro Santos da Cunha
in http://www.jn.pt/CidadaoReporter/Interior.aspx?content_id=1845945
Esta iniciativa já não é original, dado que no final do séc.XIX, por altura do Ultimatum inglês, o povo de Lisboa tapou a estátua de Luís de Camões com panos pretos, tal era a vergonha pela "cobardia" dos nossos políticos perante os tais ditos "aliados" ingleses!»
Pedro Santos da Cunha
in http://www.jn.pt/CidadaoReporter/Interior.aspx?content_id=1845945
19 de maio de 2011
14 de maio de 2011
13 de maio de 2011
prémio Camões
Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
isto agora demora
Manuel António Pina (1943)
Sabugal (Portugal)
«Em menos de meia hora o júri chegou a uma decisão consensual: Manuel António Pina é o vencedor do Prémio Camões 2011. Apesar de tão óbvia, a decisão apanhou o escritor desprevenido. "Foi a coisa mais inesperada que eu poderia esperar. Nem sabia que o júri estava reunido, nem que o prémio ia ser atribuído hoje. Portanto, fiquei absolutamente surpreendido", disse ontem à Lusa. O júri distinguiu a obra de Pina pela sua "inventividade e a originalidade". "Sinto-me um bocado embaraçado, atendendo à qualidade das pessoas, ao Panteão a quem já foi atribuído anteriormente o prémio", disse o escritor.
Com 67 anos, o jornalista do Sabugal, licenciado em direito, dividiu-se por várias áreas da literatura. O homem dos quatro ofícios: poesia, teatro, literatura infantil e ficção.
Em 1973 editava o seu primeiro livro: "O País das Pessoas de Pernas para o Ar". Como o título indica trata-se de um livro infantil que explora um lado mais surreal e humorístico, como no conto do menino Jesus não queria ser Deus. A sua obra infantil rompeu com a tradição e já faz parte dela, ao ser incluído no Plano Nacional da Leitura. Em 1974, Manuel António Pinta lançava-se na poesia com "Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde". "Acaba por ser também um prémio dado à poesia, que faz todo o sentido, porque continuamos a ser um país de grandíssimos valores nessa área e com um reconhecimento que é sempre justo e positivo", afirmou José Luís Peixoto à Lusa. Mário Cláudio concorda e defende que premiar a poesia é importante, pois tem estado mais esquecida.
Manuel António Pina ainda escreveu para teatro, sendo "História do sábio fechado na sua biblioteca", a sua última peça. O nome do escritor está associado à história do jornalismo. "Inovou muito no jornalismo português. Deu alma às notícias, com uma abordagem mais poética, mais livre", defendeu o historiador Germano Silva.
Em 2003, Pina deixou o terreno mais que familiar da literatura infantil e aventurou-se na ficção para pessoas mais crescidas com "Os Papéis de K.". A sua obra está traduzida em França, em Espanha, na Dinamarca, na Alemanha, na Rússia, na Croácia, na Bulgária e nos Estados Unidos. O Brasil parece ser a próxima aposta, já que os trabalhos do poeta ainda não foram publicados na terra do samba. Pina é o 10º português a receber o prémio. No ano passado, o Camões, no valor de 100 mil euros, foi para o poeta brasileiro Ferreira Gullar. O primeiro vencedor do Prémio foi Miguel Torga, em 1989.»
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
isto agora demora
Manuel António Pina (1943)
Sabugal (Portugal)
«Em menos de meia hora o júri chegou a uma decisão consensual: Manuel António Pina é o vencedor do Prémio Camões 2011. Apesar de tão óbvia, a decisão apanhou o escritor desprevenido. "Foi a coisa mais inesperada que eu poderia esperar. Nem sabia que o júri estava reunido, nem que o prémio ia ser atribuído hoje. Portanto, fiquei absolutamente surpreendido", disse ontem à Lusa. O júri distinguiu a obra de Pina pela sua "inventividade e a originalidade". "Sinto-me um bocado embaraçado, atendendo à qualidade das pessoas, ao Panteão a quem já foi atribuído anteriormente o prémio", disse o escritor.
Com 67 anos, o jornalista do Sabugal, licenciado em direito, dividiu-se por várias áreas da literatura. O homem dos quatro ofícios: poesia, teatro, literatura infantil e ficção.
Em 1973 editava o seu primeiro livro: "O País das Pessoas de Pernas para o Ar". Como o título indica trata-se de um livro infantil que explora um lado mais surreal e humorístico, como no conto do menino Jesus não queria ser Deus. A sua obra infantil rompeu com a tradição e já faz parte dela, ao ser incluído no Plano Nacional da Leitura. Em 1974, Manuel António Pinta lançava-se na poesia com "Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde". "Acaba por ser também um prémio dado à poesia, que faz todo o sentido, porque continuamos a ser um país de grandíssimos valores nessa área e com um reconhecimento que é sempre justo e positivo", afirmou José Luís Peixoto à Lusa. Mário Cláudio concorda e defende que premiar a poesia é importante, pois tem estado mais esquecida.
Manuel António Pina ainda escreveu para teatro, sendo "História do sábio fechado na sua biblioteca", a sua última peça. O nome do escritor está associado à história do jornalismo. "Inovou muito no jornalismo português. Deu alma às notícias, com uma abordagem mais poética, mais livre", defendeu o historiador Germano Silva.
Em 2003, Pina deixou o terreno mais que familiar da literatura infantil e aventurou-se na ficção para pessoas mais crescidas com "Os Papéis de K.". A sua obra está traduzida em França, em Espanha, na Dinamarca, na Alemanha, na Rússia, na Croácia, na Bulgária e nos Estados Unidos. O Brasil parece ser a próxima aposta, já que os trabalhos do poeta ainda não foram publicados na terra do samba. Pina é o 10º português a receber o prémio. No ano passado, o Camões, no valor de 100 mil euros, foi para o poeta brasileiro Ferreira Gullar. O primeiro vencedor do Prémio foi Miguel Torga, em 1989.»
12 de maio de 2011
11 de maio de 2011
9 de maio de 2011
Espero
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner Andresen
4 de maio de 2011
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