25 de maio de 2011

Cantigas de Amigo

Sedia-m'eu na ermida de San Simion
e cercaron-mi as ondas que grandes son:
eu atendo'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.

Estando na ermida ant'o altar,
cercaron-mi as ondas grandes do mar;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.

E cercaron-mi as ondas que grandes son:
nem hei i barqueiro nem remador;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.

E cercaron-mi as ondas do alto mar;
non hei i barqueiro nem sei remar;
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.

Non hei i barqueiro nem remador:
morrerei eu, fremosa, no mar maior:
eu atend'o meu amigo,
eu atend'o meu amigo.

Nem hei i barqueiro nem sei remar,
e morrerei eu, fremosa, no alto mar:
eu atend'0 meu amigo,
eu atend'o meu amigo.

Meendinho

«Ao lermos as cantigas de amigo, género lírico da tradição medieval galego-portuguesa, fitamos um difuso simbolismo esotérico feito de uma coincidência entre sentimento e ambiente, como por exemplo: “Amor = natureza alegremente faladora (Primavera) / indiferença = natureza tristemente silenciosa (Inverno)”.
Algumas destas cantigas têm a forma de diálogo de uma rapariga enamorada com a mãe, ou a irmã, ou as amigas, sempre acerca do “amigo” ou com este mesmo. Outras são monólogos de uma mulher enamorada. O lirismo vazado nestas composições tanto versa sobre o amor não correspondido, causa de sofrimento, desconforto e lamento, como também pode ser manifestação de um amor espontâneo. Assim, são diversos os sentimentos da donzela: o amor tranquilo e alegre; o fervor da paixão; a ansiedade e angústia porque o amigo não dá notícias; as saudades e a tristeza pela ausência do amado; os ciúmes ou as promessas de vingança pela infidelidade do amigo…
Não é por acaso que Amália Rodrigues utilizou a letra da cantiga “Sedia-m’eu na ermida de Sam Simiom” num fado. Neste cantar de amigo, a donzela, na ermida de S. Simão (ilhéu da ria de Vigo), espera o amigo embarcado. Desesperada, vê a maré encher, crescendo a sua angústia ao pensar que vai morrer sem encontrar o amigo.»

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