Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro
Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor
Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
isto agora demora
Manuel António Pina (1943)
Sabugal (Portugal)
«Em menos de meia hora o júri chegou a uma decisão consensual: Manuel António Pina é o vencedor do Prémio Camões 2011. Apesar de tão óbvia, a decisão apanhou o escritor desprevenido. "Foi a coisa mais inesperada que eu poderia esperar. Nem sabia que o júri estava reunido, nem que o prémio ia ser atribuído hoje. Portanto, fiquei absolutamente surpreendido", disse ontem à Lusa. O júri distinguiu a obra de Pina pela sua "inventividade e a originalidade". "Sinto-me um bocado embaraçado, atendendo à qualidade das pessoas, ao Panteão a quem já foi atribuído anteriormente o prémio", disse o escritor.
Com 67 anos, o jornalista do Sabugal, licenciado em direito, dividiu-se por várias áreas da literatura. O homem dos quatro ofícios: poesia, teatro, literatura infantil e ficção.
Em 1973 editava o seu primeiro livro: "O País das Pessoas de Pernas para o Ar". Como o título indica trata-se de um livro infantil que explora um lado mais surreal e humorístico, como no conto do menino Jesus não queria ser Deus. A sua obra infantil rompeu com a tradição e já faz parte dela, ao ser incluído no Plano Nacional da Leitura. Em 1974, Manuel António Pinta lançava-se na poesia com "Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde". "Acaba por ser também um prémio dado à poesia, que faz todo o sentido, porque continuamos a ser um país de grandíssimos valores nessa área e com um reconhecimento que é sempre justo e positivo", afirmou José Luís Peixoto à Lusa. Mário Cláudio concorda e defende que premiar a poesia é importante, pois tem estado mais esquecida.
Manuel António Pina ainda escreveu para teatro, sendo "História do sábio fechado na sua biblioteca", a sua última peça. O nome do escritor está associado à história do jornalismo. "Inovou muito no jornalismo português. Deu alma às notícias, com uma abordagem mais poética, mais livre", defendeu o historiador Germano Silva.
Em 2003, Pina deixou o terreno mais que familiar da literatura infantil e aventurou-se na ficção para pessoas mais crescidas com "Os Papéis de K.". A sua obra está traduzida em França, em Espanha, na Dinamarca, na Alemanha, na Rússia, na Croácia, na Bulgária e nos Estados Unidos. O Brasil parece ser a próxima aposta, já que os trabalhos do poeta ainda não foram publicados na terra do samba. Pina é o 10º português a receber o prémio. No ano passado, o Camões, no valor de 100 mil euros, foi para o poeta brasileiro Ferreira Gullar. O primeiro vencedor do Prémio foi Miguel Torga, em 1989.»
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